A FRANÇA À DERIVA

UM PRESIDENTE EM DECADÊNCIA E UM PRIMEIRO MINISTRO QUE DUROU APENAS TRÊS MESES

A França está sem governo. Michel Barnier apresentou sua renúncia esta semana, após dois votos de não-confiança no parlamento Francês.

A disputa é ao redor do orçamento para o ano de 2025 que foi apresentado ad hoc pelo primeiro ministro que temia que o orçamento não fosse aprovado por voto. Para isso, usou de poderes especiais, artigo 49.3 da constituição para aprovar o orçamento. O parlamento reagiu e o gabinete foi removido. Consequentemente a aprovação do orçamento foi anulada.

O problema Francês, além do desemprego e da falta de crescimento econômico é a fragmentação dos blocos de socialistas e social democratas. Se antes havia uma frente coordenada da esquerda contra os conservadores, hoje há pelo menos três blocos de esquerda, o que requer negociação dos blocos para manter o gabinete.

A fragmentação foi usada pelo presidente Macron para fortalecer os votos na esquerda depois da derrota nas eleições municipais. Macron chamou eleições antecipadas para os deputados em Julho de 2024 para tentar remover a inércia positiva da candidata conservadora – Marianne Le Pen. A coalizão se formou com a extrema-esquerda e o centro-esquerda, com a Nova Frente Popular, Verdes Socialistas, Comunistas e os Insubmissos da França (La France Insoumise).

A frente conseguiu obter os votos para obter a consolidação de um governo de coalizão com 182 deputados, mas a extrema-esquerda de Melénchon exige a manutenção de gastos do governo e é contra as reformas do sistema de aposentadorias. Os outros partidos de esquerda também são contra a diminuição do estado.

Um dos fatores críticos da eleição foi a escolha ditatorial, pelas lideranças, de quem iria concorrer nas eleições de Julho de 2024. Onde havia mais de um candidato de esquerda para a vaga de deputado, os chefes dos partidos escolheu um deles para concorrer, forçando a renúncia de outros candidatos de esquerda. A estratégia conquistou os 182 assentos, mas radicalizou os eleitos e também criou uma massa de políticos insatisfeitos por terem sido retirados das chapas a força. Esses políticos esperam ser recompensados por seu sacrifício, mas com o orçamento com cortes, essa recompensa não se materializa.

A eleição de julho de 2024 foi chamada para bloquear o partido conservador de Le Pen, mas as 182 cadeiras no parlamento não foram suficientes sem associar outros partidos menores e no momento que o voto de não-confiança foi chamado, o partido conservador votou contra o gabinete.

A expectativa é da formação de um novo governo de coalizão até julho de 2025, quando novas eleições podem ser convocadas. Até lá Macron estará preso a um gabinete refém dos radicais de esquerda que exigem o aumento da participação do estado na esconomia, na contramão do desenvolvimento.

REFERÊNCIAS

France’s Macron says he will appoint a new prime minister in the coming days | Reuters

What is the New Popular Front and who will be PM of a divided assembly?

France’s left-wing coalition nears breaking point

France in political crisis after no-confidence vote topples government | France | The Guardian