O AMOR IMPEDE A AVALIAÇÃO
Na data de 8 de janeiro de 2022, manifestantes entraram nos prédios públicos em Brasília, vandalizando e depredando as instalações, protestando contra a eleição presidencial.

Esses invasores foram depois concentrados em uma área e presos em um ginásio. Muitos deles assumiram suas responsabilidades e em um acordo com a procuradoria tiveram punições proporcionais a seus crimes, com uma grande maioria libertada com sentenças suspensas.
Outros desafiaram a justiça e foram condenados a até 17 anos de prisão, pelos seus supostos crimes. Alguns ainda não foram julgados. Alguns desses crimes não estão tipificados.
Este não é o primeiro protesto público na área.
Em 2013 um outro grupo tentou invadir o Itamaraty e colocou fogo em algumas áreas.

Ao contrário do grupo de 8 de janeiro, estes não foram punidos e o ministério público sequer se interessou pelos manifestantes ou pela destruição causada.
A justiça escolheu lado.
LADISMO – OU O VIÉS DE PREFERÊNCIA
Há um amor muito grande por seu próprio grupo. A imprensa tem amor por um grupo e ódio ou desprezo pelos outros grupos. Noticia os eventos com paixão e não consegue manter o mínimo de isenção no noticiário.
O que era relegado às colunas de opinião, passou a ser parte do jornalismo. Tudo é passível de editorialização e o amor do jornalista é transparente na redação.
Se a opinião política não deve ser proibida aos jornalistas, também não se pode impedir os leitores de avaliarem os jornalistas por suas posições políticas e evitar ler propganda política disfarçada de jornalismo.
DESTILANDO A VERDADE DA PROPAGANDA
O grande problema é separar a verdade esperançosa da propaganda ideológica no jornalismo e infelizmente não há remédio para separar os casos. Só o tempo pode esclarecer um pouco o que acontece no futuro. O passado também pode ser usado – com cautela – para se dar confiança à notícia, na esperança de que o jornalista mantenha suas posições ideológicas e filosóficas intactas, além da possibilidade de ser um erro sincero do jornalista ou da fonte usada pelo jornalista.
Há poucas ferramentas boas para separar a verdade da mentira.
Uma dessas ferramentas é a lógica. A imensa maioria dos fenômenos que afligem os humanos seguem uma lógica básica. Contas matemáticas tem valor esperado para as operações e quantidades definidas. O governo pode realizar malabarismos na explicação do controle da inflação, mas as contas continuam indicando o resultado matemático, não o resultado político. Excesso de dinheiro na economia sempre gera inflação.
O governo mente ao publicar que as contas estão equilibradas, mas só estão equilibradas por conta de empréstimos, o que gera inflação no presente e uma despesa com juros no futuro. É inescapável e a maioria dos economistas – não sociólogos – sabem fazer essas contas.
TESTEMUNHO PESSOAL
O testemunho pessoal também é uma forma importante, porém perigosa de se verificar a verdade.
O testemunho pessoal pode ser facilmente enganado com uma apresentação cenográfica como a Vila de Potenkin ou a Caverna de Platão, onde as pessoas testemunham um cenário inventado pelos manipuladores. Pessoas inteligentes como Bertrand Russell foram enganadas pelos Soviéticos em suas visitas à União Soviética, quando viam fartura de alimentos nas mesas e felicidade nos rostos dos trabalhadores. Na realidade era tudo forjado para agradar os visitantes, como na Vila de Potenkin.
Os testemunhos tem maior qualidade quando uma maioria subtantiva das pessoas relatam suas experiências e confirmam em sua maioria as percepções individuais de forma coletiva. Dessa forma se consegue compreender o que se passa.
Outro problema do testemunho pessoal é o viés. A avaliação pessoal depende do apego – amor – que o indivíduo tenha do assunto. Um crime contra o partido político da preferência da testemunha é um grave crime que deve ser punido com pena máxima. O crime contra outro partido político é “merecido” e deve servir de lição para quem sofreu o crime. O assassinato de um adversário, se não comemorado, é justificado, e quando a vítima for um aliado, se trata de crime hediondo que deve mobilizar todos os recursos para punir os algozes.
REPUTAÇÃO DO JORNALISTA
Jornalistas criam reputação pela qualidade de suas análises. São análises com poder explicativo, que esclarecem o que acontece e o público compreende melhor o assunto. Também têm poder preditivo. O jornalista mostra os possíveis acontecimentos futuros para cada escolha e acerta.
A reputação é construída ao longo de anos de bons trabalhos, mas pode ser destruída em uma única notícia falsa.
O custo da cesta básica de alimentos pode ser manipulado pelo governo e os jornalistas podem prometer que os preços estão baixando, mas a população vai aos mercados e só encontra mercadorias cada vez mais caras. Não apenas em um mercado ou em uma cidade, mas na maioria dos mercados na maioria das cidades. E os mercados costumam fazer propaganda impressa com preços, então se pode verificar que os jornalistas descrevem o que o governo quer e não o que acontece. O contrário também acontece, quando governo mente dizendo que os preços caíram, mas os jornalistas publicam que o preço subiu.
Os fatos independem do governo ou dos jornalistas. Na hora de comprar a mercadoria, a população fica sabendo dos preços verdadeiros.
Durante a guerra muitas vezes os governos repassam aos jornalistas a situação presente da guerra. Há casos históricos onde os governos obrigaram jornalistas a publicar a vitória, mesmo sabendo que já estavam derrotados. O fato é que os soldados não retornam para suas famílias e os territórios são perdidos e muitas vezes o próprio governo é deposto. O jornalista que cede aos desmandos do governo perde reputação, muitas vezes para sempre.