O GOVERNO CHINÊS TENTA CONSERTAR A ECONOMIA
Neste dia 10 de janeiro de 2025 o governo federal Chinês paraou de comprar títulos, inclusive de províncias que usavam desse veículo para pagar sua despesas gerais, incluindo salários dos funcionários públicos.
Os motivos são conflitantes e complicados de compreender rapidamente, porque há pelo menos três fatores que forçam o governo a parar com a compra de títulos.
O motivo primeiro da compra de títulos é a necessidade de financiar os orçamentos. Todos estão com déficit desde a crise imobiliária, posto que se financiavam com a venda de terrenos para a construção de novas casas. Como este mercado está saturado, estagnado e inadimplente, as entidades passaram a emitir títulos, que o governo central compra.
O problema é que essa compra de títulos gera inflação e uma bolha especulativa ao mesmo tempo. A dívida precisa ser paga no futuro e há uma percepção de que a dívida está ficando grande demasiado.
O governo central pára de comprar esses títulos porque enfrenta uma desvalorização da moeda nacional – Riminbi – que perdeu 5% do valor de compra internacional, tendo rompido a barreira psicológica dos 7 Rimimbi para o Dólar. Atualmente são 7,3 Rimimbis por um Dólar. A perspectiva de redução de taxa de juros nos Estados Unidos e também da taxa de impostos faz com que o governo Chinês tente equilibrar a taxa de retorno dos títulos com a taxa de juros do mercado e a inflação, que está negativa.
DEFLAÇÃO NA CHINA COMUNISTA
A inflação positiva, quando grande mostra o quanto a moeda está perdendo valor. A deflação mostra o quanto os bens estão perdendo valor. Como a moeda não é lastreada em ouro, a moeda também perde valor na deflação.
O problema da inflação negativa – deflação – na China Comunista está se agravando. Por seis trimestres a economia Chinesa está com preços de venda em queda de 0,8% (para quem acredita no governo) fazendo com que o preço dos estoques caia, inclusive abaixo do que o custo de reposição dos produtos, em uma espiral de perda de valor.
Essa espiral de perda de valor se agrava com a perspectiva já consolidada que os preços cairão no futuro, como tem acontecido nos últimos 18 meses. As pessoas adiam as compras, aguardando que os preços baixem mais ainda. Isso desequilibra as contas das empresas que passam a tentar desovar mais mercadorias no mercado com promoções e descontos, para estancar a perda de valor, reduzindo cada vez mais os preços.
Se a inflação quando alta é ruim, pior é a deflação.
COVID-19
O governo da China Comunista teve uma atitude bem diferente do resto do mundo no trato com a Covid-19. Provavelmente por terem mais informações do que o resto do mundo, já que a doença surgiu na cidade de Wuham, na província de mesmo nome, onde se faz pesquisa biológica avançada.
O governo da China Comunista, depois de protestar contra os países que fecharam as fronteiras para os Chineses, fez um lockdown muito forte com o uso de força policial para manter as pessoas isoladas e iniciou uma vacinação em massa.
Enquanto o resto do mundo acabou criando um tipo de imunização de rebanho por conta do enfraquecimento do vírus, a China Comunista teve a crise por mais tempo, prejudicando muito o retorno à normalidade.
DOENÇA HOLANDESA
O que se chama de Doença Holandesa é a crise que assola um país onde uma indústria, no caso Holandes a extração de petróleo no Mar do Norte, deixa a economia tão aquecida no setor que acaba desconstruindo outros setores da economia, como a agropecuaria e o comércio.
A crise Chinesa é parte devido ao sucesso em capturar a demanda global por produtos manufaturados. Essa capacidade de exportar esses produtos com valor agregado gera uma balança comercial positiva que inunda certas regiões industrializadas da China com capital. O grande lucro dessas industrias cria pressão sobre outras áreas da economia, que não tem como competir pela mão de obra ou mesmo investimentos, que são todos canalizados para a indústria, onde tem mais retorno.
Com a Covid-19, muitas empresas da China Comunista também pararam de exportar porque suas fábricas estavam paradas e os trabalhadores em lockdown em suas casas. Neste meio ínterim, trabalhadores em países já livres da Covid-19 criaram novas cadeias de suprimento substituindo os Chineses.
Outro setor que teve muito investimento foi o setor imobiliário. Os Chineses usam suas casas como reserva de valor e uma grande quantidade de poupança foi investida em imóveis. Por vários anos, o consumo de per capita de concreto foi muito maior na China do que no resto do mundo.
Mas quando a industrialização amadurece, não há mais expansão desse mercado. A taxa de crescimento diminui e os investimentos diminuem esfriando a economia. O que no resto do mundo é normal, na China Comunista se tornou uma crise quando o crescimento ficou menor do que 7% – um número que ninguém acredita.
A crise do setor imobiliário atinge brutalmente a poupança da população. Essa tradição de investir em imóveis tomou um grande choque na crise da Evergrande e da Country Garden que vaporizaram o valor de seus recebíveis quando os milhares de prédios em construção pararam de serem finalizados, transformando se em obrigações ao invés de recebíveis. Muitas famílias perderam toda a sua poupança e hoje não tem nem o dinheiro e nem o imóvel.
O PLANO ESTATAL DEU ERRADO
Novamente Mises e Hayek estavam certos. Não é possível planejar a economia, porque há fenômenos como a Covid-19 que precisam de resposta flexível do governo, além da ganancia dos agentes econômicos que sempre inventam uma forma de se apropriar de mais lucro.
A escolha pela construção civil pelo governo como industria para desenvolver a economia, sem prestar atenção às mudanças demográficas na população gera uma distorção na economia. A política de desenvolvimento usando a construção de casas para moradias se baseia em expansão da população, mas a política de um filho por família eliminava essa possibilidade de crescimento da população.
Outra natureza da humanidade foi desprezada também. A China Comunista reune dois problemas sérios juntos e simbióticos: despotismo e corrupção. Com o regime totalitário, a China comunista não goza da imprensa livre criticando as decisões de governo, incluindo a corrupção.
As empresas de construção civil, gozando da proteção do governo, passaram a vender produtos ainda no papel para os consumidores, que pagavam adiantado pelos apartamentos. Essa prática é comum no mundo inteiro, mas no caso da China Comunista vem com uma característica venenosa: as províncias ganhavam dinheiro vendendo terrenos para as construturas também, em joint ventures com as construtoras, fazendo com que o mercado se tornasse interdependente e um esquema de pirâmide de Ponzi se formou. As pessoas entravam no esquema pagando pela finalização dos apartamentos das pessos que haviam comprado apartamentos antes.
Como sabiam os economistas Austríacos, em um momento as partes iriam se tornar gananciosas em excesso e os clientes passaram a comprar mais de um apartamento, as construtoras passaram a alavancar mais e mais seus projetos, precisando de crescimento cada vez maior para continuar entregando os apartamentos prontos e as províncias precisavam vender mais terrenos para as construtoras.
As três linhas vermelhas de Agosto de 2020.
No momento que todos se tornaram excessivamente gananciosos, o governo central da China Comunista resolveu esfriar o mercado, criando a regra das três linhas vermelhas. Essas regras diminuiam a alavancagem das construtoras, reduzindo o ciclo. O problema é que a solução chegou tarde e chegou durante a crise da Covid-19, com as empresas com dívidas muito grandes e com fluxo de caixa negativo, porque a economia estava em parada total. De repente as linhas de crédito desapareceram do mercado e toda a indústria de construção civil entrou em colapso.
Isso inclui as pequenas empreiteiras que não receberam seus pagamentos, as fornecedoras de janelas e portas, as indústrias de pisos e revestimentos. Todos ligados à construção civil simplesmente não receberam seus pagamentos.
VAPORIZAÇÃO DAS POUPANÇAS
Com a crise imobiliária os apartamentos não terminados perderam todo seu valor. Os compradores pagaram e vão receber um esqueleto de prédio em ruínas ou ainda, sequer vão ter a fração do terreno onde deveria haver um apartamento.
Os que tiveram sorte e os apartamentos estão terminados, possuem um apartamento com valor de mercado correspondendo a uma fração do valor de compra, porque o mercado imobiliário está desaquecido com poucas pessoas interessadas em comprar imóveis. Há perda de até 80% do valor de imóveis. Essa perda é como se toda a poupança da família fosse destruída. Quem tinha 100 mil dólares, de repente passou a ter 20 mil. O resto foi perdido.
O resto foi perdido para todos, os poupadores, o mercado e até o governo perderam esse capital, que não mais vai ser comercializado e que o governo não vai mais poder cobrar impostos.
CRISE NO MERCADO DE CARROS ELÉTRICOS
A China Comunista investiu pesadamente na indústria de carros elétricos. Há mais de 200 marcas diferentes de carros elétricos na China. Dessas, 100 marcas são consideradas grandes. O governo Chinês subsidia essas empresas para que sejam as líderes mundiais na produção de automóveis elétricos, assim como os Estados Unidos eram líderes mundiais em produção de carros a gasolina.
O problema é que os países no mundo inteiro não têm como abastecer todos os carros elétricos produzidos e vendidos. A Califórnia, maior consumidaora de carros elétricos, está com uma crise de abastecimento de energia elétrica e o governo pede para que as pessoas não carregem seus carros elétricos, sob o risco de haver falta de energia.
Outros países como Alemanha e Austrália e até Reino Unido estão com o mesmo problema. Isso impede o uso de carros elétricos e diminui a demanda por esses veículos, porque a infra-estrutura necessária para carregar as baterias não foi instalada ainda.
Os subsídios do governo Chines não instalam redes elétricas nos consumidores e os países que importariam os carros não se engajaram com tanto entusiasmo pelos carros elétricos, porque estão com problemas energéticos próprios. A Europa não tem excedente de energia porque a Rússia está em guerra com a Ucrânia e desde 1 de Janeiro de 2025 não há mais consumo de gás da Rússia na Europa. Os últimos contratos caducaram no final do ano.
O FUTURO
O futuro é incerto e uma das possibilidades é o recurso da criação de um inimigo externo para a China Comunista introduzir uma economia de guerra.
Esperamos que não seja o caso e que o governo Chines simplesmente aceite a desvalorização da moeda e simplesmente realize as perdas.
REFERÊNCIAS
China’s central bank halts bond buying as yuan struggles | Reuters
Why China’s central bank has stopped bond purchases
China’s central bank buys government bonds, stirs intervention talk | Reuters
fitchratings.com/research/sovereigns/deflation-in-china-risks-becoming-entrenched-05-11-2024
Analysis: China’s EV market reshaped by a brutal elimination round | CNN Business