O mais populoso país do Oriente Médio em crise se transforma em mais um foco de atenção para uma região que tem concentrado problemas no último século. Desde o desmantelamento do Império Otomano a região tem sido palco de crises econômicas, sociais e militares.
O Egito solicitou e conseguiu um empréstimo de urgência do Fundo Monetário Internacional (FMI). Foi liberado uma quantia de mais 5 bilhões de dólares, aumentando o acordo de 3 para 8 bilhões.
Obviamente o acordo de empréstimo exige que o Egito tome providencias para resolver problemas estruturais em sua economia, que serão muito duros com os Egipcios que recebem alimentos e combustíveis subsidiados que deverão no futuro próximo passar a pagar os preços de mercado.
No comunicado oficial do FMI, se coloca a exigência de refomar o regime de taxa de câmbio, que é extremamente regulamentado resultando em mercado negro de câmbio e uma grande quantidade de pagamentos internacionais atrasados. É parte do acordo flexibilizar a mercado a taxa de câmbio.
Isso é um problema muito grande por conta da inflação que vai causar grande comoção social, onde o custo dos alimentos já consome grande parte da renda das pessoas. A taxa corrente de inflação é de 36% e com tendência de aceleração.
A medida para reduzir a inflação é aumentar a taxa de juros em 6% a mais, sobre os 2% do mês passado. A taxa de juros já é de 27% para os melhores credores.
Tudo isso se passa em um país com problemas estruturais e sociais importantes.
O maior problema social é a falta de empregos e de perspectiva de vida para uma grande quantidade de homens jovens. A primavera muçulmana criou expectativas de mudanças, mas apenas destruiu um regime ditatorial na região e transformou toda a região em uma região de regimes ditatoriais e crueis e em alguns casos, regimes ditatoriais, cruéis e sádicos com os territórios dominados pelo Isil ou Daesh.
A Irmandade Muçulmana sido forte agente na região desde a queda do Império Otomano, sua origem é revivalista, ou seja, querem retomar o poder em todas as regiões onde os Muçulmanos dominaram, na versão restrita, ou tomar todas as regiões e transformar todas as populações do mundo em fiéis. Fiéis muçulmanos. Apesar das negativas em entrevistas com orientalistas encantados, as próprias publicações dos estatutos declaram claramente os objetivos de dominação.
O problema dos jovens desiludidos no Egito é a atração que uma nova revolução exerce na mente dos jovens, que sonham em atuar como agentes de seu destino, mesmo que seja por forma da violência. O desemprego é de 60% entre os homens jovens e a maior fonte de renda do país é a ajuda dos Estados Unidos, cerca de 2,2 bilhões de dólares por ano, cobrança de pedágio do Canal de Suez, turismo e o envio de dinheiro de 3 milhões de trabalhadores nos países do Golfo Pérsico.
A industria e mesmo agricultura é prejudicada pelas leis de herança ainda vigentes no Egito. A tradição egipcia é de que haverá distribuição da herança entre os herdeiros homens e mulheres, estas com uma fração menor do patrimônio. O problema é que poucos são ricos o suficiente para comprar as partes dos irmãos e a administração fica extremamente complicada com vários proprietários igualmente chefes e se repartem o patrimônio, não há o suficiente para manter o empreendimento.
A fronteira Egipcia com Gaza é também fonte de problemas. Os Palestinos olham para os Egipcios como parceiros, mas o Hamas tem ligações com a Irmandade Muçulmana e o Egito tem vedado a fronteira com Gaza pelo risco que existe dessa passagem ser usada para que os líderes militares do Hamas se escondam no Egito. Os líderes religiosos estão asilados no Qatar.

from CNN
A fronteira entre o Egito e Gaza parece mais com a fronteira de Berlin Oriental com a Ocidental. Duas faixas de muros com concertinas em três níveis fazem com que a fronteira dos Estados Unidos com o México seja apenas uma cerca demarcatória.
O FMI atendeu o presidente do Egito, Abdel Fattah el-Sisi, com os empréstimos de urgência, mas é hora de reformas importantes.
Algumas dessas reformas são duras, mas necessárias. Liberar o câmbio, remover os subsídios e facilitar o comércio são passos importantes.
Ao contrário de muitos analistas, o fato dos militares no Egito controlarem alguns dos projetos não me trás tanta preocupação. O problema é mais sério que a presença dos militare. Os militares estão agindo ocupando o espaço que a Irmandade Muçulmana ocuparia na economia. Se os militares forem removidos, não há outra alternativa.
A relação entre Egito e Israel é também importante. Quando a Irmandade Muçulmana tomou o poder, uma das propostas eleitorais era re-examinar o Acordo de Paz de Camp David se os Estados Unidos parasse de pagar a ajuda orçamentária, ou seja acordos de paz onde o Egito ganhou todo o deserto do Sinai em troca de paz seria transformado em nada.
O golpe militar que alçou el-Sissi ao poder é um mal menor quando comparado com uma entidade que ainda tem em seus estatutos a eliminação de um povo e de uma nação.
FontesIMF Staff and the Egyptian Authorities Reach Staff Level Agreement on the First and Second Reviews under the EFF Arrangement www.imf.org/en/News/Articles/2024/03/06/pr-2459-egypt-staff-and-authorities-reach-agreement-on-reviews-under-the-eff-arrangement
Egypt Indicators (tradingeconomics.com) tradingeconomics.com/egypt/indicators
Egypt doesn’t deserve a bail-out, but should get one (economist.com)