GUERRA DE TARIFAS

A ÚNICA FORMA DE GANHAR É BAIXAR AS TARIFAS BILATERALMENTE

A vitória eleitoral de Donald Trump desencadeou pânico entre os jornalistas. O motivo é desconhecido, pois os jornalistas garantem que são imparciais e que não tem agenda política nem ideológica. Sem esses dois motivos, não há razão para se temer a presidência de quem já foi presidente recentemente, o 45o presidente.

Uma das narrativas de desastre anunciado é o aumento de tarifas mundiais que Trump vai desencadear no mundo.

É uma mentira. O mundo vive há muito tempo em guerra de tarifas. Inclusive houve a Rodada Uruguay da Organização de Comércio Mundial – World Trade Organization – para se baixar as tarifas de importação entre os participantes e obedientes às regras da WTO.

A MENTIRA DA TARIFA INFLACIONÁRIA

Tarifas podem aumentar o custo das importações, mas não é exatamente só com o aumento do preço. A prática de dumping – venda abaixo do custo de produção – da China e outros países acaba aumentando o custo final dos produtos quando depois da guerra de dumping, o país importador pára de produzir localmente para importar.

Isso aconteceu com vários produtos industriais como automóveis e outros produtos industriais porque certos países não tem custos trabalhistas equivalentes. O custo mais baixo das mercadorias é pago com trabalho escravo nos países produtores a baixo custo.

Tarifas podem ser negociadas. Há uma tendência – compreensível – de tratar economias mais fracas com simpatia e permitir que apliquem tarifas ou que tenham poucas tarifas de importação. Isso deve ser tratado caso a caso, com países pequenos que precisam de ajuda.

Não é o caso de países industrializados como Alemanha e França que bloqueiam a importação e produtos e serviços para proteger suas empresas locais.

A tarifa deve ser retirada de todos os países, não apenas dos Estados Unidos. Se a tarifa tem problemas, o ideal é remover todas elas.

POLÍTICAS INDUSTRIAIS NACIONALISTAS

Os países se comportam como empresas no comércio mundial, tentando se manter mais superavitários (ganhar mais do que gasta) do que deficitários (gastar mais do que se ganha). Isso é importante porque as contas devem ser pagas e o ideal é que esses déficits sejam administrados em um faixa, para que o país possa prosperar sem um surto de inflação devido às taxas de endividamento das empresas e do governo e também que não haja excesso de ingresso de dinheiro, caso em que apenas algumas poucas áreas da economia progridam – as que obtém muito sucesso – fazendo com que o país em geral sofra, apesar de ser superavitário (doença econômica Holandeza).

Países não industrializados são prejudicados por exportarem matérias primas e importarem produtos manufaturados que tem preços maiores, levando-os a dívidas na balança de pagamentos – déficits – que perpetuam o subdesenvolvimento.

Essa teoria é muito popular entre os sociólogos e economistas formados em escolas de sociologia. Aparentemente o ciclo vicioso é inquebrável e a posição de colônia é permanente, sem que haja uma quebra violenta desse ciclo vicioso com o confronto entre os explorados e os exploradores, entre os oprimidos e opresssores.

O mecanismo existe, mas é preciso determinar com cuidado quem são os exploradores e os explorados. Nos países não desenvolvidos a proposta é o governo gerar barreiras tarifárias para que a indústria local seja incentivada e tenha volume suficiente para se tornar competitiva em nível internacional, momento no qual as tarifas podem ser removidas.

Os industrialistas nacionalistas ainda demandam subsídios, na forma de empréstimo de capital do governo – impostos – para que sejam feitos os investimentos. Em resumo, os empresários nacionalistas querem que o governo invista nas suas empresas a fundo perdido – parte subsidiada – e que crie barreiras à competição.

Essa é uma transferência de capital dos pobres para os ricos. O FGTS, por exemplo, é usado pelo governo para financiar BNDES. Se há falência ou calote, o mesmo governo pega dinheiro da União para pagar o rombo.

POLÍTICAS MERCANTILISTAS

Os governos democráticos, muitas vezes recipiente de doações eleitorais, fica vulnerável ao pedir essas contribuições legítimas e quando solicitado, prefere aceitar os argumentos dos empresários. Essa decisão é reforçada pela manutenção dos empregos no próprio país, o que aumenta a popularidade do governo que apoia o indústria nacional.

Esse quid pro quod – os políticos agradam seus financiadores e os financiadores continuam patrocinando políticos – é corrupção.

Há alguns poucos exemplos de indústricas que devem ser mantidas sob controle nacional, por serem estratégicas, como armas e geração de energia – elétrica, petróleo. Há necessidade de se manter o controle nacional de algumas formas de transporte como o marítimo e o aéreo, que podem ser boicotados por países beligerantes.

A imensa maioria das indústrias devem competir livremente com a possibilidade de se importar produtos e serviços necessários quando os empresários locais não detém a tecnologia ou a vontade para serem competitivos localmente.

Ao criar barreiras estimuladas por empresários, os consumidores do país passam a pagar mais caro pelos produtos e serviços oferecidos pelos empresários nacionais, transferindo riqueza da população consumidora para os empresários já ricos.

É possível e talvez necessário que algumas indústrias sejam estimuladas e protegidas de competição para que possam chegar a uma escala economicamente viável. O problema é como conseguir que políticos façam uma boa escolha enquanto estão governando por um tempo limitado – nos países democráticos.

FRAUDES NO COMÉRCIO INTERNACIONAL

Outra forma de mercantilismo é a criação de barreiras não alfandegárias para bloquear acesso a mercados.

Muitos países inventam motivos para essas barreiras e é um esporte universal. Os tecnocratas japoneses inventaram que a carne dos Estados Unidos não podia ser consumida pelos japoneses que possuiam uma anatomia intestinal “diferente”.

A União Européia se recusa a comprar carros japoneses ou americanos porque carros produzidos nos Estados Unidos e Japão não são homologados. Esse processo de homologação é extremamente longo e confuso, na prática impedindo a importação. Os poucos exemplares importados são importados por independentes que se responsabilizam pela falta de homologação.

Os países em desenvolvimento escolhem algumas formas de industrialização. A maioria deles tinha uma estrutura oligárquica rígida, com as mesmas pessoas ricas se revezando no poder político.

REGRAS ESPECIAIS PARA CHINA COMUNISTA

O único país que conseguiu modificar as regras da WTO para ingressar como economia de mercado é a China Comunista. Sem abrir seus mercados para importação, conseguiu abrir todos os mercados para comprar seus produtos fabricados com mão de obra barata, próximo ao trabalho em escravidão.

Os países do Ocidente acreditavam que se a China tivesse prosperidade econômica, iria se inserir no mercado internacional e comprar as mercadorias por conta da demanda interna natural e que o povo chinês iria demandar mais abertura política de seus governantes.

Isso não aconteceu e os eventos de 4 de junho de 1989, o Massacre da praça Tiananmen, mostraram que não deveria se criar esperança de uma abertura política.

A China importa muito pouco do resto do mundo. Suas importações são basicamente alimentos e insumos para sua indústria – energia e commodities minerais.

A proteção de mercado instalada pelo Partido Comunista Chinês funcionou muito bem, fazendo com que a China de importadora de produtos industriais em 1980, passasse a ser exportadora desses produtos no ano 2000. Hoje se fabrica mais carros na China do que em muitos outro países.

TARIFAS COM TRUMP

O presidente eleito – toma posse em 21 de Janeiro de 2024, já declarou que vai exigir reciprocidade dos parceiros comerciais.

Países ricos como China, Alemanha, Japão, Coréia do Sul, Canadá, México, Reino Unido, França, Brasil, Colombia entre outros não poderão mais manter tarifas para importar produtos sem que tenham seus produtos de exportação tarifados igualmente.

Países pobres como Timor, Ruanda, Bolivia, Haiti entre outros terão seus privilégios tarifários enquanto países em desenvolvimento.

A proposta é simples. A WTO era para ser o fórum de negociação de tarifas. Falhou miseravelmente nessa negociação. Os países irão negociar bilateralmente para negociar tarifas entre si. Os Estados Unidos negociou com Canadá e México acordos bons para os três países. A União Européia fez o mesmo. É possível fazer o mesmo com os outros países.

O foco nos Chineses é válido porque a economia Chinesa cresceu e a China Comunista hoje tem uma economia maior da que a Alemanha ou Japão, e não pode mais se esconder como uma pequena economia que precisa de ajuda externa. A China Comunista tem hoje mais produção industrial do que toda a Europa. É hora de inserir a economia Chinesa por completo no mercado, como um país vendedor e comprador de mercadorias.