Ucrânia – Cuidando da comunidade

Há uma grande expectativa que o congresso Americano libere os 100 bilhões de dólares para ajudar a Ucrânia a se defender da Rússia, em sua desesperada luta que já passou do segundo ano.

A invasão vem depois de dois tratados de paz. O primeiro, de 1995, quando a Ucrânia entregou o arsenal nuclear para a Rússia em troca da promessa de paz. São fiadores desse tratado, o Tratado de Budapest, os Estados Unidos e Reino Unido. França – por consequencia a União Européia – e a China também oferecem “garantias”. O segundo tratado de paz é de 2014/2015, com a mediação da França e Alemanha para encerrar as hostilidades na Ucrânia, simplesmente dando a vitória para os Russos.

Ao contrário do que muitos pensam, o tratado de 1995 não é contra a Rússia, mas contra qualquer ato belicoso militar ou econômico de quaisquer dos signatários, Estados Unidos, Reino Unido ou Rússia contra a Ucrânia, Bielorrúsia e Cazaquistão. Em troca, esses países devolveram seu arsenal atômico para a Rússia.

O arsenal atômico desses países representam coisas diferentes para cada lado.

Segundo as informações disponíveis, os artefatos atômicos da União Soviética possuiam mecanismos de seguraça para evitar que fossem usados por militares de alta patente que desenvolvessem planos de detonar esses artefatos contra o Ocidente, em uma guerra não declarada, ou mesmo contra a União Soviética, de modo a iniciar uma guerra atômica.

Esses aparatos de segurança fariam com que os dispositivos fossem inúteis sem os códigos de detonação. Até a tentativa de desmontagem dos artefatos para uso do material físsil (Urânio enriquecido e Plutônio) seriam arriscada.

A Ucrânia tem capacidade científica para desenvolver armas nucleares e possivelmente poderia fazer engenharia reversa dos artefatos. Aliás, a Ucrânia é berço de muitas tecnologias aeroespaciais importantes, como a fabrica Antonov, casa dos grandes aviões de transporte estratégicos.

Os países entregaram suas armas atômicas em troca de um tratado de paz com a Rússia na boa fé de que seriam protegidos contra ameaças externas.

Em 2014 a Rússia invade a Ucrânia para anexar a peninsula da Criméia. Os Estados Unidos, na gestão do Democrata Barack Obama não faz nada contra, assim como o Reino Unido ou França.

O argumento Russo para a invasão da Criméia em 2014 é uma suposta preferência da população local de perterncer à Russia e a ligação cultural que a região tem com a Rússia, como por exemplo o uso da língua Russa na região. Obviamente esquecendo que durante a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas o aprendizado de Russo era obrigatório e o uso da língua Russa era oficial e para qualquer progresso profissional ou político na RSS da Ucrânia – forma como era chamado o país da Ucrânia na época – era necessário ser fluente em Russo.

O argumento Russo de que a Ucrânia sempre pertenceu à Russia e que é natural unificar os dois países é cínico. Este argumento não era válido quando a RSS da Ucrânia tinha assento e voto na Assembléia Geral da ONU, por exemplo. Nessse caso, era um país independente que deveria ser reconhecido. Agora, Vladimir Putin, querendo novamente mudar a história, declara que a Ucrânia nunca foi independente e que sempre foi parte da Russia, como na entrevista concedida ao jornalista Tucker Carlson.

Que as duas nações tem um berço comum é verdade. Que a Ucrânia nunca foi independente também é verdade. Mas então a declaração de independência e o reconhecimento internacional vale em quais condições? A independência do Congo ou Aden ou Índia podem ser desfeitos por meio de uma ameaça militar?

A Rússia assinou o Tratado de Budapest com os Estados Unidos, Reino Unido como fiadores e França e China como garantidores acessórios.

A invasão de 2014, durante o governo do Democrata Barack Obama e a nova invasão de 2021 no governo do também Democrata Joseph Biden, mostra que os tratados assinados com certos países não valem nada se os países garantidores não agem para proteger os mais fracos, no caso a Ucrânia.

O que garante que um novo acordo de paz, com a Ucrânia cedendo mais território não vá incentivar a Rússia a invadir os países Bálticos, Estônia, Lituânia, Letônia dizendo que são territórios historicamente Russos? E a Polônia? Estaria a salvo da gana imperialista Russa?

O leitor sabia que em 1946 a União Soviética quase invadiu a Turquia para controlar o estreito de Bósforo e ter acesso ao mar Mediterrâneo? Sabia que o único motivo para a União Soviética ter desistido do ataque foi a Turquia ter se aliado à OTAN?

E se a Alemanha Oriental for anexada após a conquista da Polônia? Afinal a Cortina de Ferro chegava até o Rio Elba, na fronteira com a então Alemanha Ocidental. A Alemanha inteira poderia ser anexada, afinal o socialismo é o próximo passo da social democracia ou socialismo democrático.

De modo pragmático os diplomatas preferem o “Apaziguamento” como forma de lidar com um país agressivo que anexa territórios à margem da lei internacional e que não cumpre os tratados que assinou. Os diplomatas o fazem sabendo que vai dar errado e que durante o processo serão o foco de atenção do noticiario e quando o inevitável fracasso diplomático do apaziguamento ocorrer o problema será dos militares.

É um erro apaziguar qualquer nação agressiva. É preciso cuidar da vizinhança para que não seja necessário lutar em seu próprio território. O objetivo Russo é obter os recursos naturais dos países vizinhos. É preciso re-estabelecer a ordem.

A Europa tem muito a perder se a Ucrânia perder a guerra e não está contribuindo o suficiente para a guerra. Não envia nem dinheiro e nem armamento. Aguardam que os Estados Unidos paguem os quase 150 bilhões pela guerra que é de interesse dos Europeus.

A União Européia somada todas as suas economias tem o mesmo tamanho da economia Americana, mas prometeu um total de 47 bilhões, contra 72 bilhões desembolsados pelos Estados Unidos sozinho.

É preciso que a Europa contribua mais e que essa contribuição não seja promessa ou ainda investimentos em suas próprias indústrias bélicas, como fez a França, que prometeu mandar armamamento assim que produzir esses armamentos em seu próprio território, atrasando as entregas porque não quer comprar o armamento pronto de outros países da UE.

A questão de usar a Invasão da Ucrânia como política industrial seria válida se não fosse comprometer o tempo de resposta. É preciso que os governos entendam o óbvio: depois que a a Ucrânia perder a guerra, mandar armamento para lá é inútil.

O congresso Americano sabe de todos esses dados e trabalha com a perspectiva que os Europeus devem fazer mais para cuidar da segurança de seus vizinhos.

Em 1994, na guerra da Bosnia, o problema estava do outro lado do Mar Adriático e a Austria e Itália e mesmo a Alemanha temiam que a guerra se alastrasse para seus territórios e que os refugiados alcançassem suas fronteiras. Hoje a guerra está um pouco mais longe, mas ainda é na Europa e a Europa deveria cuidar de seus vizinhos e não esperar que os Estados Unidos sejam a polícia do mundo.

SOBRE A UCRÂNIA PÓS UNIÃO SOVIÉTICA

Muito se publica na imprensa a respeito da qualidade do governo Ucrâniano. É preciso muito cuidado e o tema será tratado com mais informações em outra postagem.
Agora precisamos lembrar do básico: após a queda da União Soviética em 1991 a Ucrânia foi governada pelo antigo lider da Ucrânia no período Soviético. Nada mudou e a corrupção dos tempos Soviéticos se traduziu em formação de oligarcas ricos que tomaram para si as indústrias e fazendas Ucranianas. A desordem econômica que se forma pela corrupção e pela incompetência dos burocratas – o presidente é o mesmo do tempo da União Soviética, levam a uma estagflação com queda do PIB de 60% e hiperinflação de 10 mil porcento ao ano em 1993.

O próximo presidente também é oriundo da União Soviética, com pensamento totalitário e que se aproxima mais e mais da Russia tentando se eternizar no poder, desencadeando a Revolução Laranja em 2004. A corrupção e o controle da mídia é a marca de seu governo.

Em 2005 um novo presidente, Viktor Yushchenko, é eleito depois de sofrer envenenamento por dioxina. As eleições de 2004 foram fraudadas, mas na nova eleição Yushchenko é eleito, derrotando o candidato preferido dos Russos, Victor Yanukvych.

O governo de coalizão é fraco e tem problemas com as ambições políticas de seus componentes e dificuldades para enfrentar as crises financeiras internacionais e os problemas causados pela corrupção endêmica e pela influência dos agentes Russos.

Finalmente, em 2014 o preferido dos Russos, Viktor Yanukovych, ganha a eleição contra Yulia Tymoshenko, ex primeira ministra, também acusada de corrupção.

Yanukovych governa com cada vez menos liberdade de expressão e emprisionamento de seus adversários políticos, como Tymoshenko.

Em Novembro de 2013 obedecendo seus mestres Russos, Yanukovych renega os tratados comerciais com a Europa e os substitui por um acordo com a Russia. Essa traição desperta a ira da população que faz protestos em massa. Yanukovych foge para a Russia.

Em 2014 há uma nova eleição que é vencida pelo bilionário Petro Poroshenko, um nacionalista mais alinhado com a Europa.

Suas posições políticas contrárias à ocupação da Criméia e do Donbass são vistas favoravelmente pelos Ucrânianos, mas causam desgosto em Moscow. Até seus pedidos para que a Russia pare de enviar armamento para a região são desdenhados.

Poroshenko trás um alívio de estabilidade à Ucrânia com medidas para eliminar os resquícios do comunismo e também reduzir a corrupção endêmica no país, com agências de auditoria.

Poroshenko também é quem conclui que só a aproximação com a Europa e/ou OTAN vai salvar a Ucrânia de ser anexada pela Russia, que não respeita os tratados que assina.

O ato do Vice Presidente Biden de supostamente exigir a demissão do procurador público que investigava a empresa onde seu filho Hunter trabalhava, Burisma, foi em 2015, no governo Poroshenko. É preciso lembrar que no governo Poroshenko a FSB, serviço secreto Russo agia na Ucrânia.

Finalmente há Volodimir Zelenkyy, um ex ator sem relevância política além do personagem “Funcionário Público”, uma comédia onde se retratava como o presidente da Ucrânia.

Desta lista acima sobre política na Ucrânia vemos que a Russia ou União Soviética influenciou muito os governos de quatro presidentes e que a corrupção era endêmica no país com muitos laços com Moscou.

Falar que o governo atual é corrupto é difícil, porque no estado de guerra que se encontram não há muito espaço para as investigações. Pode ser corrupto sim, como tem sido a tradição, mas a oposição financiada pelos Russos é ativa e já teria publicado os podres que achou.

German, French and Polish leaders make joint show of unity over Ukraine | Germany | The Guardian https://www.theguardian.com/world/2024/mar/15/german-french-and-polish-leaders-hold-emergency-meeting-on-ukraine

Leaders to meet in Berlin for Ukraine peace talks | Ukraine | The Guardian https://www.theguardian.com/world/2016/oct/18/ukraine-peace-talks-merkel-putin-poroshenko-hollande

Comer Presses State Department for Information on then-Vice President Joe Biden’s Sudden Shift on Ukraine Policy – United States House Committee on Oversight and Accountability https://oversight.house.gov/release/comer-presses-state-department-for-information-on-then-vice-president-joe-bidens-sudden-shift-on-ukraine-policy%EF%BF%BC/

Who is Viktor Yanukovych? The man Putin wants to place back in power in Ukraine | Fortune https://fortune.com/2022/03/02/viktor-yanukovych-yanukovich-putin-put-back-in-power-ukraine-russia/

FACTBOX: Who is President Viktor Yushchenko | Reuters https://www.reuters.com/article/us-ukraine-election-yushchenko-idUSL271055720070927/

Special Report: Why Ukraine’s revolution remains unfinished | Reuters https://www.reuters.com/article/idUSKCN0IC0W4/

Ukraine – Kuchma, Reforms, Independence | Britannica https://www.britannica.com/place/Ukraine/Kuchmas-presidency